quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Muitos afirmam que o anarquismo não pertenceria nem à esquerda nem à direita do espectro político convencional.

Vamos analisar alguns pontos: Esse espectro surgiu durante a Revolução Francesa, na Assembleia Legislativa, na qual os partidários da manutenção da ordem aristocrática e monárquica pré-estabelecida sentaram-se à direita do plenário, enquanto os defensores da revolução e eliminação das estruturas existentes ficaram à esquerda. Poucos sabem, mas ambos os autores Proudhon e Bastiat (muito querido pelos liberais) sentaram-se à esquerda da assembleia, apesar de suas diferenças notáveis; foi assim pois ambos defendiam a substituição da ordem vigente pelas suas respectivas ideologias. Assim, pode-se ver que a simplista categorização de ideologias políticas apenas em termos de Esquerda ou Direita podem causar mais confusão do que esclarecimento, afinal, como poderiam tanto o Socialismo Libertário quanto o Laissez-faire pertencerem ao mesmo lado dessa dicotomia ? Ambos propuseram alternativas radicais ao sistema vigente da época, na expectativa de uma melhora das condições humanas. Logo, um traço é notável, apesar de tudo: a Esquerda sempre se mostrou como um desafio às estruturas sociais oriundas do absolutismo e da divisão da população em classes de dominantes e classes de dominados. Agora perguntem a si mesmos: Ocorreram mudanças significativas na forma como a sociedade organiza-se mantém-se desde aquele período ? A divisão entre aqueles que detém o poder de decisão sobre outros e aqueles que sofrem o exercício desse poder, cessou de existir ? A resposta é não. Apesar de diversas mudanças terem ocorrido ao longo da história (como a consolidação do capitalismo e a instauração de ditaduras sob os moldes do marxismo-leninismo), as estruturas de poder continuam; os indivíduos que detém esse poder (sejam eles nobres, burgueses ou burocratas estatais) são diferentes, mas pouco mudou de fato. O poder ainda é detido por poucos e não importa quem o detenha, ele deve estar distribuído o máximo entre os indivíduos da sociedade de maneira igualitária. Dessa forma, se optarmos pela adoção da definição original e clássica de Esquerda e Direita, podemos afirmar que o anarquismo é uma ideologia de Esquerda, justamente por desafiar a ordem política atual e propôr um novo modelo, sob o qual o progresso e desenvolvimento possam ser alcançados. A Esquerda que temos em mente quando pensamos em termos contemporâneos (com partidos e movimentos defensores de Estados grandes e controladores de todos os aspectos da sociedade), pela mesma definição, estaria longe dos objetivos esquerdistas clássicos, visto que ela ainda reafirma a divisão da sociedade entre governantes e governados por meio do aparato estatal. A Esquerda atual e majoritária é retrógrada e prejudicial aos indivíduos. Logo, Esquerda e anarquismo são conceitos totalmente compatíveis se utilizarmos suas definições puras e desconexas de possíveis alterações ocorridas ao longo da história - isso não quer dizer que o uso desse espectro seja adequado, muito menos mandatório; diversas outras maneiras de se definir ideologias políticas existem e podem ser aproveitadas afim de definir-se as características e metas anarquistas. As desigualdades e injustiça ainda são presentes, e com o mesmo espírito dos esquerdistas da Assembleia, afirmamos que precisam ser substituídas por horizontalidade, solidariedade e auto-gestão.

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